Alguns, pouquíssimos países, têm a fortuna de verem nascer uma voz assim. Em Espanha, foi Fátima Miranda. É ela que personifica a “voz” na música de vanguarda; uma voz capaz de atravessar 4 oitavas e um registo expressivo fenomenal, tão raro encontrar-se que redefinem os pressupostos da música experimental. Mas não é só a voz. As suas actuações são performances num ambiente eclético, multicultural. No palco, a narrativa constrói-se através de metáforas, referências culturais e étnicas, fantasias diversas, evocações de uma infância (não) perdida, formando ambientes poéticos ou de inesperado virtuosismo atravessados por um humor subtil, principalmente em consequência da sua voz, mas também de uma coreografia precisa, da luz e dos cenários criados.
Fátima Miranda nasceu em Salamanca e julgo ainda viver em Madrid. Com um Doutoramento em História da arte, mas um evidente interesse vocacional pela música, a sua voz tornou-se conhecida a partir dos anos 1980, após estudos de técnica vocal de diversas culturas tradicionais. Embora tenha também tocado saxofone alto, foca-se na sua voz para a desenvolver em todo o seu potencial. Ainda durante a década de oitenta começa a revelar uma linguagem pessoal única, que acabaria por sistematizar, fazendo soar a sua voz (e corpo) como instrumento de percursão e sopro e combinando técnicas de bel canto até aí consideradas incompatíveis.
A discografia inclui já quatro trabalhos, provenientes dos concertos-espectáculo que criou: Las Voces de la Voz (1992), Concierto en directo (1994), ArteSonado (2000), Cantos Robados (2005, DVD) e diversas colaborações em trabalhos antológicos ou de outros autores.
Se o concerto a que assisti em 2000, no Centro Cultural de Belém (ArteSonado) foi directo e cru, o último, em Março passado na Culturgest (perVersiones) foi de uma subtil complexidade. Ambos a deixar profundas marcas.
Site:
http://www.fatima-miranda.com