terça-feira, 12 de maio de 2009

Elliot Sharp

Elliot Sharp, no próximo dia 21 de Maio às 22h, no CCB
(Jazz às Quintas, entrada gratuita)


“All things must change to something new, to something strange.”
Henry Wadsworth Longfellow"

Tenho uma admiração antiga pelos músicos que fazem improvisação.
Quanto menos idiomáticos (menos ligados a linguagens musicais já existentes), mais os admiro e vão perceber já porquê.
Para os ouvir não basta sentar-me confortável, relaxar e deixar a música correr, porque isso apenas funciona quando a cena já está pré-estabelecida: eu sei o que vais tocar, tu sabes o que quero ouvir e assim entendemo-nos, não pensamos mais no assunto e acompanhados pelo ritmo cardíaco maternal, regressamos um pouco ao estado intra-uterino. Esta é a música de aeroportos (e não me refiro a Brian Eno).
Também não serve a atitude dominante de quando se assiste a um concerto: é uma decisão premeditada e activa e por isso, de alguma forma acabamos a avaliar a música, queremos que nos surpreenda. Sim, mas não demais. Tem haver uma alternância constante entre o factor surpresa e o que antecipamos que se vai passar, porque senão não funciona. Se a música é sempre previsível ou se nunca antecipamos o que se vai ouvir, desistimos de avaliar, ou seja de seguir o espectáculo. (bingo, estatisticamente a maior parte de nós não gosta ou não quer passar daqui quando ouve música)
Para ouvir música improvisada, não idiomática, não é possível adoptar nenhuma destas atitudes. Quando não se enquadra em regras já interiorizadas durante a nossa vida, é como ter de voltar à escola. Não estamos a avaliar a música porque não ‘sabemos’ nada sobre aquilo. Temos de nos disponibilizar a simplesmente aprender e isso não é cómodo. O nosso sentido crítico terá de se dirigir para outros aspectos indirectos, como a coerência do todo, a noção de capacidade de condução versus desenrolar aleatório que os músicos nos transmitem, a descoberta de novas estéticas através de novas estruturas, novas sonoridades, uma nova descoberta do belo. Temos de procurar.
Isto também dá prazer e até é relaxante, porque os avanços que fazemos colmatam as ansiedades que o desconhecido nos tinha trazido.
Mas não é um caminho que seja muitas vezes traçado na nossa vida inquieta onde a música é acima de tudo entretenimento imediato. Penso que tudo começa por estar sempre disposto à descoberta de outros horizontes. E nós somos muito ensinados a não fazer isto.

E agora, já perceberam. Se ouvir a música é um processo que exige de nós, ouvintes, imaginem o que não será criá-la e tocá-la. Uma maravilha, por certo.

2 comentários:

Tita disse...

Gostei deste post. Inspirado e sentido. É mesmo assim quando se gosta de boa música.

PºG disse...

:)