terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Coleman Randolph 'Bean' Hawkins

À pergunta de qual é o instrumento mais característico do Jazz, a resposta mais frequente é sem dúvida o saxofone (tenor). Mas se o Jazz nasce em finais do séc XIX, foi apenas em 1914 que ‘Six Brown Brothers’, um grupo constituído apenas por saxofones (um instrumento inventado por Adolphe Sax em 1846), realizou as primeiras gravações de ragtime e jazz.

Mesmo em 1921, quando Coleman Hawkins se iniciou como musico profissional, o saxofone tenor ainda era considerado essencialmente um instrumento de acompanhamento. Hawks revela-se um músico seguro, com um som cheio e vibrato rápido e bem colocado. Em 1923 grava um solo ‘dirty blues’ que atinge uma enorme notoriedade.

A sua técnica de slap-tongue, assemelhava-se ainda à dos músicos de Vaudeville, apesar de ser já considerado como um músico de ‘avant-garde’. Mas, na orquestra de Fletcher Henderson, a influência de Louis Armstrong que entretanto entra na banda, vai ser decisiva em especial no estilo rítmico e no swing, em particular para Hawkins. Até aqui rígido, começou a evoluir para uma forma mais suave, linear e melódica, evidente na sua gravação ‘Stampede’ em 1926, e na qual se torna clara a sua entrada no swing. Em 1933 a sua fama era mundial e dele se ouvem pela primeira vez solos de sax tenor bem vigorosos e rápidos mas simultaneamente com um som aveludado e, na balada, uma fluidez e ligação de notas sem precedentes. Nas palavras de Joachime Berendt, o Jazz foi tenorizado. Durante uma estada da banda de Henderson em Kansas City ele conhece uma série de músicos locais, onde se incluí Lester Young e também Ben Webster, Herman Walder e Herschel Evans. Numa jam session no Cherry Blossom Club que reúne estes nomes a expectativa atrai boa parte da comunidade de músicos para assistir. O despique é aceso e longo e segundo testemunhas como Mary Lou Williams ou Jo Jones, a melhor foi levada por Lester Young e surgia assim um rival.


Hawk ruma para a Europa já gozando da fama e prestigio alcançados e nos cinco anos que aí permanece realiza uma diversas gravações de relevo. A mais famosa destas sessões realizou-se com um grupo onde se incluíam Django Reinhardt e Benny Carter. Hawkins tocou com uma vitalidade e fervor rítmico notáveis e fez um solo extraordinário na gravação de ‘Crazy Rhythm’.


Entretanto também Lester Young tinha desenvolvido e ganho admiração pelo seu estilo oposto a Coleman Hawkins: o de Hawks é vertical, baseado na passagem dos acordes, ou como vulgarmente se designa, baseado nos ‘chord changes’. Tinha um tom cheio e um vibrato poderoso. Lester Young tinha um sentido horizontal, apoiado pelo voice leading e elevado sentido melódico. Um som igualmente marcante mas sem qualquer vibrato e aparentemente liberto do passar dos tempos.


Regressado aos EUA, Hawkins grava “Body and Soul” aproveitando uma oportunidade de utilizar tempo de estúdio. Não esperava desta gravação o acolhimento extraordinário que veio a ter. Nas suas palavras “it was nothing special, just an encore I use in the clubs to get off the Stand. I thought nothing of it and didn’t even bother to listen to it afterwards”. Mas os dois excepcionais chorus de improvisação, verdadeira obra prima, que causa reacção imediata por parte do público e dos outros músicos, reestablecendo a sua importância como músico.


A sua carreira prossegue. Nos 40's foi também um músico de bebop, encorajou e acompanhou muitos ‘modernistas’ como Thelenious Monk, Max Roach e Dizzy Gillespie. Esteve ligado às primeiras experiencias do nascimento do Bebop, em contraste nítido com outros músicos como Armstrong ou Benny Goodman que praticamente repudiaram esta nova forma de tocar.


Nos últimos dois anos de vida Coleman apresenta sinais de desgaste psíquico e sofre agravadamente de alcoolismo, um problema que o acompanhou boa parte da vida. Em 1967 colapsa em palco, em Toronto. Ainda surge no trio de Oscar Peterson e toca por algum tempo nop Ronnie Scott’s. Em 1969 dá o seu último concerto no North Park Hotel em Chicago, falecendo pouco depois.


Coleman Hawkins está no Panteão de solistas de Jazz ao lado de Armstrong, Beiderbecke, Parker, Bechet e Young. Verdadeiro mestre do saxofone, com um raro sentido de improvisação, capacidade de expressão e propensão para a liderança instrumental, continua a ser uma figura inspiradora e venerada para todos os saxofonistas tenores.

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